Olá, petistas, democratas, psdebistas, pepistas e onanistas, rs
Vejam texto da matéria da edição de hoje do jornal Correio Braziliense.
A matéria, que tem dados e fala do Estruturação, ocupa página inteira e abre o caderno Brasil.
Welton Trindade - diretor
retratos brasileirosDiversidade e solidãoPesquisadores investigam vida dos travestis que chegam à terceira idade. Preconceito e isolamento familiar são os principais problemas. ONGs lutam pelo direito de incluir nome de guerra nos documentos
Ullisses CampbellDa equipe do Correio
São Paulo ? Carla Suely tem 65 anos e mora no asilo particular Casa Pão de Santo Antônio, em Santo André, Grande São Paulo. Ela acorda às 6h todos os dias para tomar café com mais 112 idosos que dividem 56 quartos. Há uma ala masculina e outra feminina. O convívio entre os moradores do lugar é agradável. Eles ouvem música a manhã toda, praticam dança de salão no meio da tarde e assistem à tevê a cabo à noite. Faz oito anos que Suely está no asilo, mas só há dois meses decidiu contar um segredo para as colegas de quarto: ela, na verdade, é ele. Suely nasceu Antônio Carlos Alves. Aos 22 anos, saiu do município de Franca (SP) para se tornar travesti na capital paulista. ?Lembro que era 1969 e o regime militar estava no auge.? A princípio, as seis mulheres que dividem o quatro com Suely tiveram dificuldades para acreditar na revelação. ?Eu sempre a achei meio esquisita, mas nunca me passou pela cabeça que se tratava de um homem. Eu acho que ela deveria passar para a ala masculina?, protesta uma das colegas de quarto, de 72 anos. A direção do asilo ainda não decidiu que providências tomar. ?Nós sempre soubemos que ela nasceu homem. Mas seus familiares disseram que ela usa nome de mulher há mais de 30 anos?, conta a assistente social Ana Luiza Luz. O drama de Suely expõe uma realidade cada vez mais difícil para os travestis que chegam à terceira idade. Dois trabalhos científicos feitos pela Universidade Católica de São Paulo e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostram que chegar aos 60 anos com corpo de mulher e nome de homem é muito mais difícil do que se imagina. ?O mundo é cruel com os travestis novos, imagina com os velhos?, resume a antropóloga Mônica Soares Siqueira, da UFSC. Segundo a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTT), existem cerca de 100 mil travestis cadastrados em entidades de apoio no país. No Distrito Federal, a organização não-governamental Estruturação catalogou 80 e entrevistou 69, que fazem programas no Setor Comercial Sul e na Praça do Relógio, em Taguatinga. Do total de travestis ouvidos pela pesquisa, 37% disseram que viveram conflitos ao assumir a condição gay e 7% chegaram a ser expulsos de casa. Quarenta e um por cento moram sós, 17% dividem moradia com outros travestis e 11% ainda estão com a família. ?Esses índices revelam que a maioria delas acaba sozinha ou segregada, à margem da sociedade?, diz Welton Trindade, diretor da Estruturação. Samantha está ficando velha para fazer programas, admite. Tem 55 anos. Ainda assim, tenta a sorte na rua. Faz ponto no Centro de São Paulo de terça a sábado. Ao sorrir, mostra a falta de alguns dentes, o que não a impede de se manter vaidosa. Está sempre com roupas de festa quando faz ponto no Arouche. ?Venho aqui há 25 anos. Com a idade, fui perdendo cliente. Em um mês, consigo um programa. Mas não tenho nada para fazer. Só saio dessa praça morta?, garante. Rejeição A pesquisa de Mônica Siqueira constatou que os travestis geralmente tentam voltar a morar com familiares quando chegam à terceira idade, mas dificilmente são aceitos. ?A grande parte vive na solidão, muitas vezes até por opção. Algumas usam a experiência de vida para militar em organizações não-governamentais, como foi constatado no Rio de Janeiro e na Bahia?, diz Mônica. A baiana Keila Simpson, 42 anos, está longe de ser considerada velha. Presidente da ANTT, ela conta que a exclusão na qual vive o idoso heterossexual não abate tanto os travestis, que são acostumados a viver à margem da sociedade. ?Nós ficamos sob o tapete desde que assumimos a nossa condição. Na escola, somos humilhadas. Em casa, não somos aceitas. Só o que nos resta é a rua. E poucas pessoas que vivem na rua chegam à terceira idade?, revela Keila. Ela se queixa da falta de legislação específica para tratar os travestis idosos. Em sua tese de doutorado, Jorge Leite Junior, da Universidade Católica de São Paulo, diz que a sociedade precisa ser educada para aceitar os travestis. ?Há um problema sério de reconhecimento humano dessas pessoas, dificultado porque ainda tratamos o tema como se fosse um transtorno. O começo para essa mudança está na escola?, acredita o cientista social.
O númeroUnião100 mil travestis, aproximadamente, estão cadastrados em ONGs de apoio em todo o país 80 foram cadastrados pela ONG Estruturação no Distrito Federal
Identidade desrespeitadaUm dos sonhos de todo travesti é ter o nome de guerra ou social, como eles costumam chamar, registrado na carteira de identidade e outros documentos. Com esse objetivo, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Travestis (ABGLT) está percorrendo todas as secretarias estaduais de educação com um manifesto pedindo a assinatura de portarias que autorizem o uso dos nomes sociais nas escolas públicas. ?Centenas de alunos travestis são chamados pelo nome de homem, causando constrangimento na sala de aula?, diz o presidente da entidade, Toni Reis. O Ministério da Educação já se manifestou favorável ao uso dos nomes sociais de travestis e transexuais nas escolas brasileiras, mas os estados e municípios têm autonomia para decidir se seguem ou não a regra. O governo do Pará já emitiu uma portaria que garante a matrícula de travestis e transexuais com seus nomes sociais. O modelo está em implantação em Minas Gerais, Paraná e Piauí. O problema é recorrente. ?Já fui humilhada em sala de espera de posto de saúde porque as enfermeiras chamam o nosso nome em voz alta. Uma vez me levantei e a enfermeira gritou: ?Eu chamei Francisco?. Eu disse: ?Sou eu?. Ela me olhou dos pés à cabeça e começou a rir?, conta Stella, 56 anos, moradora do Rio de Janeiro. Moradora de Samambaia, Kelly M., 68 anos, conta histórias semelhantes. ?Eu tenho passe para andar de ônibus de graça. Aqui em Brasília, os motoristas encrencam comigo porque minha carteira traz meu nome de homem, Roberto Moreira. No início, eles não deixavam eu entrar. Agora, já me conhecem.? No ano passado, a deputada federal Cida Diogo (PT-RJ) apresentou projeto obrigando as secretarias de Segurança Pública e delegacias regionais do Trabalho a incluir em documentos o nome social dos travestis junto com o nome de batismo. A proposta está prevista para ser votada neste ano. ?É uma forma de garantir que o indivíduo não seja alvo de constrangimentos? , diz a deputada. A diretora do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, lembra que já existe uma portaria ministerial determinado que haja um campo específico no formulário de identificação do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) para constar o nome social do travesti. (UC)
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