segunda-feira, 10 de maio de 2010

129 TRQANSEXUAIS EM FILA DO HOSPITAM PARA MUDANÇA DE SEXO NO RIO.

129 transexuais esperam troca de sexo em hospital no Rio
Criado por urologista, programa de transexualizaçã o dura 2 anos e envolve ao menos cinco especialidades até chegar à cirurgia

Mantido pelo SUS, projeto surgiu em 2003, após uma cirurgia de transexualizaçã o ordenada pela Justiça

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

M. está tomando anabolizantes para engrossar a voz e ter mais características masculinas. Tem apenas 21 anos, e algo já está definido: nasceu mulher, mas quer ser homem.
"Acho que a voz engrossou só um pouquinho", diz ao urologista Eloísio Alexsandro, 39. "Você deve abrir os ouvidos para as mudanças", ele responde.
M. conta que a família já o chama pelo nome masculino, e não pelo da certidão de nascimento. "Isso é muito bom", segue, atencioso, Alexsandro.
Ele atende 129 transexuais inscritos num programa que dura cerca de dois anos e tem a cirurgia de transgenitalizaçã o (tecnicamente, a mudança da genitália) como ápice.
No programa, chamado Grupo de Atenção Integral à Saúde das Pessoas que Vivenciam a Transexualidade, M. é minoria. Dos 129 pacientes, 116 querem fazer a cirurgia para trocar o pênis por uma neovagina.
Às quartas-feiras, das 8h às 13h, Alexsandro recebe os pacientes no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, zona norte do Rio, o mais forte dos quatro centros (Rio, SP, Goiânia e Porto Alegre) que realizam o processo gratuitamente, pelo SUS, no país.
Às 11h, cabelos longos avermelhados, a longilínea J. entra no ambulatório. Foi operada em abril de 2009 e segue no programa -Alexsandro faz questão de saber se a nova genitália funciona bem, como vai a vida sexual da paciente, se está satisfeita com o resultado etc.
"Terminei com aquele, mas já tô namorando outro, doutor!", conta J.. "Não contei que sou trans. Disse que nasci hermafrodita e, por isso, meu nome na identidade é diferente."
O médico diz a ela que deve dar entrada no processo para mudar de nome e de gênero nos documentos. "É difícil, mas não vou desistir", diz ela.
J. é uma das 47 "trans" operadas primariamente (há outras 13 que passaram por correção em cirurgias feitas fora dali) no programa que Alexsandro criou em 2003, após fazer a cirurgia de transexualizaçã o a pedido judicial -uma "trans" lutava pelo direito da operação e conseguira naquele ano.

Processo holístico
Alexsandro liga para a namorada a fim de conferir em qual novela da Globo houve personagem transexual. "As Filhas da Mãe" (2001) teve Cláudia Raia como Ramon -ou Ramona, depois da cirurgia.
O médico também lembra de um caso na literatura. Em "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, Alexsandro acredita que Diadorim, vestida de homem para vingar uma morte, remete à questão. No cinema, gosta de "Glen or Glenda" (1953), de Ed Wood.
O interesse multidisciplinar é a base do programa de transexualizaçã o: antes da cirurgia, o paciente é atendido por endocrinologistas, psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. "O papel fundamental dos psicólogos é na saúde mental.
"Quando chega a mim, não dá simplesmente para fazer a cirurgia e devolver. Não é industrial. Tem que ouvir histórias, participar, saber o momento. A questão é mais profunda, holística."
Sua experiência permite avaliar as transformações das transexuais no país. "Hoje, a transexual brasileira é mais exigente. Ela quer uma genitália que funcione, que permita usar um biquíni menor, que permita a depilaçãozinha tradicional brasileira. Tive que adaptar muita coisa do que aprendi para a demanda das pacientes", conclui.

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